quarta-feira, fevereiro 27, 2008

DO AMOR

Diria eu do amor qualquer bobagem?
Não. Sei que o amor é nato dom perfeito,
que no peito que guarda a paz, proclama
as intenções de um bem que é tão modesto,
que o seu protesto de atenção é doce
a ponto de manter resignada
a alma do que sofre o amor perdido,
e pensa não servir para mais nada.

Há dor, não nego, mas há fé, há vida,
e havendo isso por perto, o desespero
não ganha dimensão não concedida,
de ter toda atenção que há no mundo.

O amor só faz algumas exigências:
conter o desejar desordenado,
amar sem concessão, limite ou medo,
colhendo com prudência o que semeia.
Fugir de sujeitar a alma alheia,
sentindo da saudade o traço terno,
que haja espaço à liberdade, ao sonho,
que enfim atingirá valor eterno.

(PC - 25/02/2008)

terça-feira, fevereiro 12, 2008

O HOMEM SEM CONVICÇÕES

Sou um debatedor profundo.
Prolixo,
fixo meus indícios de certeza
na mesa do empirismo;
e com dinamismo digo o que sinto;
até minto, mas não admito qualquer apelo
em servir de modelo a ninguém!
Mantenho distância dessa insistência
de uma verdade absoluta;
minha paixão resoluta pela contradição,
e a aparente inocência de minha incoerência,
são armas sagazes contra os loquazes,
um truque perfeito a que tenho direito.
Não sou simpático aos dogmáticos,
nem convicto aos vacilantes;
mudo a todo instante,
sem ajudar aos que desejam um lugar
onde a razão não seja refém de ninguém.

Sou um debatedor profundo.
E do fundo de meu abismo,
semeio, no seio de meu cinismo,
dúvidas disfarçadas de argumentos
àqueles que quiserem mostrar
a qualquer momento,
que o sofisma é o alimento
do homem sem convicções.

(PC - 12/02/2008)