terça-feira, junho 10, 2008

NEGRITUDE
À memória de Aimé Césaire

Ponta de lança,
de faca no peito;
uma chama
de sangue que sobe
e eclode na ponta
da pena,
na luta do povo
preto oprimido;
que agora anuncia
com rimas, metros, pés,
liberdade através
da poesia.

(Paulo Cruz)
AMOR DE VERANEIO

Nunca tive um amor de veraneio.
Meus amores todos foram maiores
do que eu mesmo, maiores que eu
em minha modestíssima estatura,
maiores que meu coração, acima
de minha capacidade de ser
menor que o necessário a uma paixão.
Meus amores duram a vida toda,
e são parte de mim, de minha arte,
são o que fui e sou ao mesmo tempo,
meu futuro saturado de vida,
são a todo momento e num instante
são tudo de mim e o que nada tive,
são de tudo o que tenho, o mais humano
e o mais humilde mistério em mim,
meu clamor ao infinito, ao Eterno
(pois só o Eterno ama ternamente).
Minha mente arde de amores vivos,
e nunca é tarde para amar senão
tudo o que existe; nada é passageiro.

Amor de veraneio é um devaneio,
nunca me entreguei senão por inteiro.

(Paulo Cruz)
ARCO-ÍRIS

Vermelho lá vai violeta,
e lava minha alma de poeta
em sua névoa de vida abundante.
Instante que alude à divina aliança,
mudando a desordem ordinária da vida.

Sinal de um tempo aceitável;
guardião de tesouros elementais,
de quimeras infantis,
da mítica morada das fadas
e da força infinita da magia.

Vivas cores desprezam o poder da morte
e marcam o céu de sutil imortalidade.
Um sol tímido e vacilante revela-se
e anuncia um dia de amores
puros como um arco-íris.

(Paulo Cruz)