quarta-feira, abril 01, 2009

A REPÚBLICA DO POETA

Que duro golpe me aplicou Platão
e sua República de pudicos.
desvendou o segredo dos aedos
chamou de mentira a arte dramática
e questionou, à maneira socrática,
os hexâmetros perfeitos do Mestre,
acusando-os de mera imitação.
Não permitiu aos deuses sentimentos
dúbios, propriedade dos humanos;
a detenção serena da verdade
é o que cabia aos impassíveis numes,
e declamar só seria possível
aquilo que passasse pelo crivo
"democrático" de seus escolhidos.

Ora essa estadista, não me assuste!
Só me recuperei lendo Aristóteles,
que diz que a poesia é mais que história
e a meta principal é o possível.
Respiro aliviado lendo a Íliada,
de posse da Odisséia louvo Ulisses
e mesmo eu agora escrevo versos,
pois salvo do infortúnio pelas musas,
não posso mais calar meu canto alegre.
E ainda mais, estou recuperado,
não sofro mais da crise que eu sofria
e sigo em paz com a Filosofia.

(Paulo Cruz)