quinta-feira, julho 01, 2010

DE MIM

De mim, que já não sou eu mesmo, grito,
porque me falta um pouco ainda, ainda,
nos versos que com dor são arrancados
de mim, pois não consigo ser eu mesmo.

De mim, de mais ninguém, demonstro os erros,
se bem que poderia apontar outros,
que, como eu, não são mais que um instante
de sonho, sanha, sina e céu noturno.

Mas só de mim é que hoje achei motivo.
E ativo um paradoxo dialético,
seguindo a via inversa à que me afronta
e à frente de mim mesmo me confronto.

O espaço é tão concreto e específico...!
Se fico em mim não sei se vou além,
― tal como o além-do-homem nietzscheano ―
ou mesmo até se em mim encontro Deus.

De mim é que exagero e gero dúvidas,
pois sei que sou capaz de mais um pouco;
ao menos de esperança sou munido
a ponto de estar são e também louco.

(Paulo Cruz)