quinta-feira, outubro 20, 2011

ATÉ QUE TENHAMOS ROSTOS

Eu te amarei de uma maneira pura,
emudecendo meu desejo ardente;
e caminhando ei de seguir em frente,
sabendo: assim nenhuma dor perdura.

Visitarei teus sonhos sutilmente
e cada passo de tua ação futura;
o mesmo amor que, longe, fere, cura,
pois segue íntegro e, assim, contente.

Não maculei teus lábios com meu riso,
nem mesmo descobri em teu semblante
qualquer sinal de um decoro indeciso.

Maior prazer é mesmo estar diante
desta distância e manter o siso;
ser teu amigo e, em segredo, amante.

quinta-feira, junho 30, 2011

...



CARTA A UM JOVEM POETA
                                            a Érico Nogueira

Contra ti eu pequei; contra o céu? nem se fale!
Destes versos que escrevo, meu Deus!, não sou digno;
pois imito, não minto, não sou criativo
nem ao ponto de ter soluções bem modestas,
que me impeçam de ser um vulgar papagaio.
Ser poeta é assim, um labor dos diabos!,
mas não saio escrevendo qualquer baboseira,
bem por isso procuro teus sábios conselhos.
Sem ter pena de mim, por favor, desça a lenha!
nem que eu tenha que, enfim, desistir (não faz mal),
sou consciente que as coisas não são como quero,
e versar porcaria, eu tô fora, é vergonha.
Mas é sério, me ajude!, eu preciso de um toque.
Não das garras ferozes de um crítico chato,
nem do afago cretino de um puxa-saco;
mas do aval valioso de um literato,
um que saiba de fato o que diz sobre o tema.
Mais que isso, um amigo, a quem admiro
e que miro o modelo perfeito dos versos.

sábado, maio 07, 2011

E de repente...


FORTUITO


Um brilho que me arrebata,
sim, estonteantemente
epifânico; momento
de eternidade no tempo
que o instante me concede.

O passo que nem percebe
caminha perante o mundo,
e a vida que corre a mil
há muito não silencia.
Em torno tudo é tumulto.

Então me atiro num átimo
que atormenta, mas estanca
no leve susto que sara.
E num abraço que abarca
o corpo, a alma trespassa,

o Céu e a Terra se encontram.