SURTO
Que mágoas tão marcadas canto agora!
Meu corpo foi surrado e minha alma
padece em agonia sem disfarce;
quem poderá deter o mal lá fora?
Que lutas me concedem meus labores!
Já não consigo mais seguir em frente,
pois todos meus esforços são derrota;
quem livrará meu corpo penitente?
Que falta de esperança em mim aporta!
Em minha porta a solidão insiste,
e em riste os dedos para mim aponta;
quem pode resistir tamanha afronta?
Que ditos desditosos destes versos!
São frutos de infortúnio tão pungente,
causado em mim por corações perversos.
Quem nunca reclamou inutilmente?
(Paulo Cruz)