quinta-feira, outubro 05, 2006

Em algum lugar do passado

O ESCRAVO AMANTE

Era o som da morte
Que se ouvia na senzala;
O tilintar seco das correntes
E os gemidos do que ao tronco
Fora pendurado para a correção.
Ele chorava, tímido de emoção,
Sentindo o gosto metálico
Do sangue que escorria
Pelo canto de sua boca.
A dor aguda no peito
Sinalizava a costela quebrada
Pelas pancadas "de jeito"
Que levara do capitão.
Resistiria o escravo amante?
Haveria para ele salvação?

Na Casa Grande
O córneo senhor do engenho ria.
Tomava sua bebiba quente
Na noite fria
Da fazenda de café.
Depois de um dia agitado,
Sentado em sua cadeira de madeira,
Cansado,
Colocava sua honra na balança,
Executara seu plano por inteiro,
Sua alma lavara na vingança.

Enquanto isso,
A senhora chorava amarga
Em seu rico aposento;
Mas não mostrava-se arrependida,
Apesar de no corpo ferida
E jazendo em profundo lamento.
Seu coração fora partido
Pela dor dos muitos açoites
E pelo amor proibido
Que outrora gozava, nas noites
De extremada e infeliz solidão.

(PC - 06/07/2006)

Um comentário:

Anônimo disse...

PBN, sem comments!!