quinta-feira, dezembro 17, 2009

TEUS SOLOS
a Miguel Garcia

Tuas emanações artísticas
não poderiam ter outro nome:
Acordes! – é o que me dizes.
Assim, desperto, caminho em teus solos,
de peito aberto respiro
teus ar-pejos pujantes,
catalogando cada um de teus dedilhados
ilhado em tuas ondas sonoras,
colhendo cada escala saciado.
Teu canto é centro, vasto mundo
habitado de infinitos horizontes,
onde vozes tantas envolvem
uma única solidão,
na angustiante tarefa de ser e amar.

(Paulo Cruz)

http://miguelgarciapoeta.blogspot.com

terça-feira, dezembro 01, 2009

MINHA PRECE

Ao que parece, minha prece
não foi ouvida.
Não digo que não tenho crido,
são meus sentidos que, frustrados,
não têm dado chance a estados
mais receptivos.

Sei, é necessário sarar minha mente,
pois enquanto meus olhos marejados
não minarem estas lágrimas,
de maneira alguma serei são.
Permanecerei filho desta loucura
que me arrasta,
escravo desta incredulidade doente...
e propenso a escapes.

Porém, não me culpem os constantes,
sou assim mesmo, movediço.

Sou aquele caniço
movido pelo vento;
cuja face aguerrida
pelo dorso curvado,
toca a Água da Vida.

(Paulo Cruz)

quinta-feira, julho 09, 2009

NÉVOA EM NEVERLAND
à memória de Michael Jackson

Enfim a criança cresceu.
Deixou o castelo de seus sonhos
e preferiu a perfeição celeste
que buscou a todo custo,
em todo tempo, a vida toda.
Tolhido do direito de dizer
as próprias palavras,
preterido pela maturidade precoce
e ao mesmo tempo aprisionado
numa infância nunca finda,
o herói tentou curar o mundo
expondo seu ponto mais fraco,
tornando-se um excêntrico
no cenário musical,
um produto infeliz do show bizz.

Seria leviano um astro
andar na lua?

Descanse em paz, pobre menino.
Cante livremente os louvores eternos
e enterneça os ouvidos de Deus,
ganhando agora o lugar melhor
que tanto almejou;
pois aqui, na Terra do Nunca,
o duro destino que de ti nos aparta
ainda espera por nós.

(Paulo Cruz)

quarta-feira, abril 01, 2009

A REPÚBLICA DO POETA

Que duro golpe me aplicou Platão
e sua República de pudicos.
desvendou o segredo dos aedos
chamou de mentira a arte dramática
e questionou, à maneira socrática,
os hexâmetros perfeitos do Mestre,
acusando-os de mera imitação.
Não permitiu aos deuses sentimentos
dúbios, propriedade dos humanos;
a detenção serena da verdade
é o que cabia aos impassíveis numes,
e declamar só seria possível
aquilo que passasse pelo crivo
"democrático" de seus escolhidos.

Ora essa estadista, não me assuste!
Só me recuperei lendo Aristóteles,
que diz que a poesia é mais que história
e a meta principal é o possível.
Respiro aliviado lendo a Íliada,
de posse da Odisséia louvo Ulisses
e mesmo eu agora escrevo versos,
pois salvo do infortúnio pelas musas,
não posso mais calar meu canto alegre.
E ainda mais, estou recuperado,
não sofro mais da crise que eu sofria
e sigo em paz com a Filosofia.

(Paulo Cruz)